quarta-feira, 9 de maio de 2007

Onde as pesquisas vão parar

Hoje decidi ficar no relax, a pesquisar assuntos de interesse na net, como fazia na altura da faculdade (quando tinha muuuiiiitttoooo tempo livre).
Entre várias coisas, pesquisei sobre o kefir, aquele rebento da natureza tão enigmático, e que vou recomeçar a tomar. Andei também a navegar por várias faculdades, pesquisando licenciaturas em nutrição, aquilo que decididamente deveria ter tirado, em conjunto com uma especialização em psicologia. Vi seminários e pós-graduções, até que me deparei com alguns apelativos, onde me surgiu o nome Dulce Bouça, psiquiatra super conceituada e, por isso, acabou por ser o meu alvo de pesquisa (tal como já tinha sido Daniel Sampaio). Foi então que encontrei um blog que apresentava um texto de arrepiar:

Na vida de Susana há longos períodos em branco: “Sei que saía da faculdade ao fim da manhã e que, ao fim da tarde, jantava na Espiral (restaurante vegetariano e macrobiótico). Mas não sei o que fazia entretanto. Um dia larguei o emprego. Fui à consulta do Hospital de Santa Maria. Pesava 35 quilos. A médica quis internar-me. Fiz tudo para ficar em ambulatório. Deram-me um plano alimentar. Acho que foi aí que comecei realmente a ter um comportamento de anoréctica, a contar calorias, colheres de arroz. Mais tarde voltei ao hospital. Pesava 29 quilos. Mesmo assim deixaram-me sair. Cumpri à risca o plano alimentar. Uma semana depois ainda pesava menos. Nem me conseguia mexer. Fiquei semanas fechada em casa. Só a minha mãe me acompanhava. Não sei como sobrevivi.” Os médicos também não.
Nos casos em que o Índice de Massa Corporal atinge níveis abaixo dos 16 (o normal é entre 18,5 e 25) e em que a amenorreia (falta de período menstrual) se prolonga por mais de três meses, há indicação para internamento, que pode ser compulsivo. Mas uma das características da anorexia é a manipulação e, frequentemente, as doentes conseguem, à força de promessas, manter-se fora do hospital. Algumas são um prodígio de sobrevivência. Susana tem consciência de ser “um milagre”.
No entanto, nunca acreditou que pudesse morrer. E nunca o quis, afirma: “Apenas queria desaparecer. Ocupar o mínimo de espaço possível. Não ser notada.” Também garante nunca ter tido preocupação com a sua imagem e muito menos admiração pelo mundo da moda.
No entanto, salienta Daniel Sampaio, “não se pode determinar uma causa única, a doença é multifactorial. Acredita-se que existem factores genéticos, familiares e sociais, mas poderá haver um evento desencadeador, como por exemplo abuso sexual”. Não foi o caso de Susana. Ela não consegue perceber em que momento a anorexia começou a tomar conta da sua vida.
Susana tinha, até ao desencadeamento tardio da doença (aos 21 anos), uma vida social muito activa. “De repente, todos os meus amigos desapareceram, menos dois. As pessoas olhavam para mim de uma maneira... má! Como se eu tivesse escolhido isto.”

Uma outra doente, Francisca, conta um episódio que lhe causou grande mal-estar. Ao prestar provas para ingressar numa escola profissional, foi entrevistada por uma professora: “Às tantas, ela olha para mim e diz: ‘Realmente, é mesmo muito magra. Não me diga que tem uma daquelas doenças parvas das miúdas de agora?!’ Fiquei com vontade de me enfiar no buraco mais próximo.”

Daniel Sampaio, tal como os outros técnicos, sublinha a importância do diagnóstico precoce e da intervenção terapêutica que, salienta, deve, antes de mais, ser feita por um psiquiatra: “As equipas também englobam nutricionista e endocrinologista, mas a primeira intervenção deve ser do psiquiatra.” Quanto à “adesão” do doente, Daniel Sampaio garante que é conseguida pela insistência, “até porque há muito sofrimento”. Dulce Bouça, presidente do NDCA, vai mais longe: “É errado pensar que as doentes não se querem tratar. Uma anoréctica quer sempre sair da anorexia. É preciso, com muito carinho e sabedoria, demonstrar-lhe que ela continua dona do seu corpo.”

Agora sim apetece-me comentar. Ninguém escolheu esse caminho. A vida de cada doente as conduziu dessa forma. Como se, a uma dada altura, perdessem o controlo da própria vida. É como se uma pessoa que estivesse a conduzir, por momentos, adormecesse e caísse num precipício. Porém, neste caso, com força e persistência, a doente pode sobreviver.
Este texto está realmente de arrepiar. Mas o que mais me surpreende é a ignorância e inconsciência das pessoas que estão de fora e chamam a isto de "doença parva". Fumar também é parvo. Beber também é. Podem tornar-se doenças, como a ana ou a mia. São vícios, como o acto de não comer ou comer compulsiva e descontroladamente podem ser. Estas pessoas não devem ser criticadas, ou até diria condenadas, porque não fizeram mal a ninguém a não ser a elas próprias. Precisam de ajuda e de muito apoio. That's it.
Beijos